A chamada "jardinagem urbana" é tendência da estação e um dos temas prediletos da mídia alemã. Onde não há asfalto, como ao redor de árvores à beira da estrada, os moradores plantam flores e grama – e sem pedir permissão. Outros cultivam vegetais em terrenos baldios e alguns donos de restaurantes colocam tantos vasos diante de seus estabelecimentos, que chegam a parecer floriculturas.
Ainda não existe um termo em alemão para tal fenômeno, mas há tentativas de explicá-lo. Em 2011, saiu o primeiro livro sobre o tema: Jardinagem urbana: über die Rückkehr der Gärten in die Stadt(Jardinagem urbana: sobre o retorno dos jardins na cidade, em tradução livre), editado por Christa Müller. O volume discute a resistência ao neoliberalismo e a busca por alternativas aos grandes supermercados. Mas quantas mensagens políticas escondem-se em uma cenoura ou em amores-perfeitos sob uma árvore de rua?
Para Bert Beitmann, especialista em jardinagem na Alemanha, a "jardinagem urbana" é um estilo de vida e está ligada a dois fatores. "Os jovens buscam mais natureza e a utilizam como meio de comunicação." Segundo Beitmann, isso seria uma resposta a uma necessidade inconsciente. "Em nossa civilização, estamos submetidos a uma série de estímulos e, por isso, ficamos doentes com frequência. Os mais jovens são muito mais sensíveis a isso."
Mas a busca pela natureza não é algo novo na Alemanha. Os românticos já escapavam para a natureza antes do Iluminismo, principalmente para as florestas. Durante o período Biedermeier, no século 19, a burguesia construía um muro no jardim, deixava rosas subirem nele, plantava arbustos ao lado de groselhas, colocava vasos de flores sobre o gramado e levava uma vida tranquila longe da política.
Quadro típico do movimento 'Lebensreform': Ludwig Fahrenkrog, 'Die heilige Stunde', 1905
Há cem anos, o movimento "Lebensreform" (reforma da vida) exerceu grande influência sobre a burguesia alemã. Do ponto de vista dos reformadores, a industrialização da segunda metade do século 19 havia arruinado as cidades e as pessoas.
Homeopatia, nudismo, ioga e comunidades rurais tornaram-se modernas. Ali começou o que também se vê no movimento da "jardinagem urbana" atual, diz Beitmann. "Nosso individualismo moderno, nossa consciência corporal, nossa preocupação com a saúde e nossa compreensão ecológica sobre a natureza vêm dessa época."
Neoburguês ou revolucionário?
Sempre existiram jardins e até mesmo agricultura/hortas nas cidades, diz Stefanie Bock, do Instituto Alemão de Urbanismo, em Berlim. Mas, com o crescimento das cidades, grande parte dessas áreas desapareceu. Restaram as hortas urbanas, os chamados "Schrebergärten", pequenos lotes de terreno que remetem a um movimento político-social de 150 anos atrás. Naquele tempo, os habitantes das cidades deveriam garantir seu consumo de frutas e verduras em um jardim próprio.
A "jardinagem urbana" retoma essa tradição e a redefine. Até pouco tempo esses loteamentos eram vistos como um refúgio do conservadorismo, mas novas hortas urbanas vêm sendo construídas ao lado das antigas.
Portanto, diversas tradições de jardinagem alemãs podem explicar a "jardinagem urbana", porém, Bock ressalta que existe um ineditismo no fenômeno. "Os jardineiros urbanos estabelecem uma relação entre seus jardins e o desenvolvimento das cidades. Eles querem reaproximar a cidade da natureza e sentir-se parte dessa cidade", afirma.
Típico de Berlim?
Hortas urbanas são tradição na Alemanha
Ao observar a cena de Berlim mais de perto – a terra da "jardinagem urbana" na Alemanha –, depara-se com a típica mistura entre criatividade e uso temporário de terrenos abandonados, que fez a fama internacional da Berlim pós-reunificação.
"Pode ser que os jardins urbanos deem continuidade a uma cultura alternativa que existia em Berlim em clubes clandestinos e espaços livres após a reunificação", diz a pesquisadora de urbanismo Stefanie Bock.
Apenas os protagonistas atuais são outros: pessoas jovens, com outras necessidades e outras experiências. Se em 1990 as pessoas se encontravam em clubes underground ilegais para se sentirem livres da opressão comercial, hoje se busca o bem-estar entre hortas e jardins.
Um assunto para a política
Ainda não existem estudos científicos sobre a "jardinagem urbana", mas o interesse pela tendência é grande. O Instituto de Urbanismo organizou recentemente uma conferência para discutir o tema. O encontro previu que, em breve, o assunto seja também discutido pelas autoridades, para responder à pergunta: como lidar com a proliferação do verde no meio da cidade? Mas o especialista em jardinagem Bert Beitmann tem dúvidas sobre o tacto que os políticos têm para o assunto.
A jardinagem na Alemanha move-se entre dois polos. De um lado, domina o planejamento técnico-científico de espaços abertos. Paralelamente, há o marginalizado paisagismo tradicional, que trabalha num âmbito romântico-estético e emocional. "Não consigo imaginar que funcionários públicos possam se envolver sentimentalmente em qualquer atividade", diz Beitmann. Ele pleiteia que o paisagismo ganhe espaço novamente, pois talvez assim os parques e jardins públicos voltem a ser apreciados e a busca por outras áreas verdes diminua.
Fontes:
Kay-Alexander Scholz
DW