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A cura

Paracelsus: "O que cura é o amor."

Tecido feito de fibras de abacaxi pode substituir o couro

Terça-feira, 17.05.16

Sem a necessidade do sacrifício de animais, que além de consumirem enormes quantidades de água, degradarem o solo e poluírem a atmosfera com o gás metano que geram, um tecido obtido a partir das fibras das folhas do abacaxi já pode substituir o couro animal com vantagens.

Na alimentação já é possível substituir todos os produtos de origem animal por vegetais. Na moda, nem sempre é assim tão fácil. Mas Carmen Hijosa, designer de moda nascida na Espanha, decidiu contribuir para as possibilidades de escolha de quem não quer vestir, calçar ou sentar-se sobre couro de origem animal e criou um material feito a partir da fibra das folhas do abacaxi e o batizou de ‘Piñatex’.

 

“Em casamentos e eventos formais nas Filipinas, os homens muitas vezes podem ser vistos usando sobre a camisa uma peça de roupa bordada, fina e transparente, o Barong Tagalog.

Um dos materiais mais surpreendentes utilizados em sua fabricação é feito a partir das fibras de folhas de abacaxi – e os fios longos das folhas em breve poderão também ser usados ​​para fazer uma série de outros produtos, desde roupa esportiva,  sacolas e estofamento de carros.

Chamado Piñatex – piña é como os espanhóis denominam o abacaxi – o novo material foi criado por Carmen Hijosa, que trabalhou como consultora na indústria de artigos de couro das Filipinas na década de 1990. Ela não gostou muito do padrão de bens produzidos e começou a procurar alternativas. A força e a delicadeza das fibras das folhas de abacaxi utilizados na Barong Tagalog que indicou logo de início que havia outra opção: “Eu estava procurando uma alternativa ao couro. Esse foi o começo do meu pensamento. “O que está nessas belas bolsas de couro que não é couro?'”, disse a designer espanhola.

A descoberta ocorreu quando Hijosa percebeu que poderia fazer uma malha não urdida – um tecido ligado em conjunto, sem tricotagem ou tecelagem – a partir de fibras longas, de um modo semelhante ao feltro.

As fibras que compõem o Piñatex são extraídas pelos agricultores a partir das folhas de abacaxi das plantações antes que eles sejam cortados e dispostas em camadas. Eles são, então, processadas industrialmente para que o tecido seja produzido. Um subproduto do processo da biomassa pode ser convertido em adubo, propiciando um rendimento adicional para os agricultores.

Com uma aparência semelhante à tela, pode ser tingido, impresso, e tratado de forma a se obter diferentes tipos de textura. Com o tratamento, o Piñatex pode aproximar-se do couro, em espessuras variadas, em função da utilização do produto acabado. Para opeças que se desgastam com facilidade, como as bolsas, um material mais grosso é necessário.

Os preços do couro subiram porque há menos animais do que o necessário para atender a demanda, diz Hijosa. “O couro está se tornando um luxo, e subiu ao ponto mais alto preço do mercado.”, disse.

“Há uma lacuna no mercado entre os têxteis à base de petróleo e couro, que é o ponto de preço médio, e que é a lacuna que o Piñatex busca.

“Nós podemos fazer sapatos, malas, cadeiras e  sofás. Até mesmo painéis. Eventualmente, pode ser produzidos para o interior de carros, até mesmo para revestimentos.”, afirmou.

Enquanto Hijosa queria criar um produto que pudesse ser uma alternativa ao couro, ela também queria que fosse ambientalmente amigável. Como é um subproduto do abacaxi, o Piñatex não necessita usar mais terras para que sejam produzidos, disse ela.

“Somos totalmente inovadores. Não estamos substituindo algo, somos uma alternativa. Somos uma alternativa ao couro e uma alternativa para têxteis à base de petróleo o que é sustentável e tem uma base sociológica e ecológica sólida”, disse ela.

O custo do Piñatex, que foi lançado em Londres no início de dezembro de 2014, é atualmente cerca de 18 £ por metro quadrado (para revestir uma peça de mobiliário são necessários cerca de cinco metros quadrados), enquanto que o couro está entre 20 e 30 libras, de acordo com a designer. “Nós temos a vantagem de que nossos resíduos ficam em cerca de 5%, enquanto que os resíduos do couro vão a 25%, então há um preço a pagar pelos resíduos também”, assegura ela.

Até agora, os dirigentes das indústrias estão ansiosos para experimentar o novo tecido, sempre em busca de novas ideias, embora Hijosa admita que vai demorar algum tempo para o produto avance no mercado. Ela acredita que os consumidores estarão interessados ​​em adquirir um produto sustentável, que ajuda as comunidades agrícolas do outro lado do mundo.

Mas ela acredita que o mercado está bastante aberto a novos produtos que tenham um valor razoável: “É um pouco como quando fórmica surgiu. Antes de tudo, era um substituto para algo – madeira – e parecia feio para nossos olhos. Mas, eventualmente, tornou-se um produto por si só com o seu próprio look and feel e eu acho que com o Piñatex vai acontecer a mesma coisa.

Quando ela começou a procurar uma alternativa para o couro, Hijosa queria que o novo produto fosse parecido com o que estava substituindo. Agora, no entanto, ela diz: “Eu não estou realmente preocupada se ele se parece com couro porque tem que começar a ‘parecer’ consigo mesmo.”

As projeções são de que 1 milhão de metros quadrados do Piñatex serão vendidos por ano até 2018, o que Hijosa acredita que é “bastante viável”. Negociações estão em andamento para garantir mais fundos para a empresa por trás do produto, da qual ela é a sócia majoritária.

O futuro verá pesquisas sobre outras possíveis utilizações do Piñatex. Estes podem incluir a proteção antibacteriana de feridas, pois o material poderia permitir que o ar circule sobre uma lesão, e também como isolamento para residências.

16 abacaxis, 480 folhas, 14 meses
Cada pé de abacaxi possui entre entre 30 a 40 folhas, cada uma com cerca de um metro de comprimento. Para produzir um metro quadrado de Piñatex de espessura média, são necessárias 480 folhas – ou o subproduto de 16 abacaxis, dos quais existe uma colheita a cada 14 meses em países como o Brasil, a Tailândia, as Filipinas, a China, o Quênia e o Gana. Normalmente, as folhas são deixados para que apodreçam no chão após os abacaxis terem sido colhidos, finaliza Hijosa.”

 

Fonte:

Revista Ecológica

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