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A cura

Paracelsus: "O que cura é o amor."

Iniciativa: Aldeia decide arrancar os eucaliptos para evitar os fogos

Terça-feira, 08.08.17

A aldeia de xisto do Casal de São Simão, em Figueiró dos Vinhos, que ficou rodeada pelas chamas no incêndio em Pedrógão Grande, vai arrancar os eucaliptos que sobraram à volta da localidade.

 

No próximo dia 23 de Julho, os moradores da aldeia de xisto reúnem-se com os proprietários dos terrenos à volta da aldeia.

Segundo a associação de moradores, os proprietários dos terrenos estarão receptivos a arrancar eucaliptos para dar lugar à criação de aceiros – desbaste de um terreno em volta de propriedades  para impedir a propagação de incêndios.

Para chegar à aldeia de xisto do Casal de São Simão, vindo do IC8 na direcção Sertã – Avelar, é preciso atravessar dezenas de quilómetros ardidos. Quando a estrada serpenteia na subida para a pequena localidade, avista-se no cimo a Capela de São Simão.

À volta, tudo queimado. Mas, depois de passado o marco das aldeias de xisto é como se entrassem num pequeno pulmão verde.

O porta voz da comunidade diz que a aldeia só se “safou” porque houve “mão e ajuda do São Simão”. Por isso, a aldeia não vai esperar por qualquer decisão política.

Aníbal Quintas é o representante dos moradores e contorna a memória do dia complicado em que o fogo rodeou toda a aldeia a uma velocidade jamais vista. O morador explica que, depois das chamas controladas pelos bombeiros e pela população, a decisão foi imediata.

“Temos aqui quatro pessoas em residência permanente, tivemos que convocar os que não vivem cá e os homens dos eucaliptos que não vivem cá. Queremos criar aqui uma área substancial, que possa servir de resguardo”, conta Aníbal.

E à volta dos aceiros vão surgir árvores, pois claro, mas a palavra de ordem é diversidade: “Castanheiros, sobreiros, nogueiras… Aquelas que são árvores bombeiro”. Apesar de construído o aceiro, Aníbal Quintas sabe bem que a limpeza será necessária todos os anos.

Para já, existe entreajuda que surgiu do outro lado da fronteira: “Recebi uma chamada de Lugo, na Galiza, de uma associação ambientalista, que quer estar presente na reunião e apoiar-nos em tudo o que for possível”, assegura. Ajuda aceite. O Casal de São Simão arranca eucaliptos já a partir deste mês.

A aldeia de xisto vizinha de Ferraria de São João, no concelho de Penela, vai avançar com uma iniciativa idêntica.

A limpeza, garante a Associação de Moradores de Casal de São Simão, não vai ficar abaixo dos cem metros de distância em relação à aldeia. O primeiro dia de limpeza vai ser definido já na reunião do dia 23 de Julho. A associação de moradores quer o aceiro pronto até ao final do ano.

 

 Obs.:

De facto é uma iniciativa de louvar, arrancar os eucaliptos, como se sabe o eucalipto e os eucaliptais dão-se bem com o fogo.

A lista de árvores que Portugal devia incluir nos jardins, manchas florestais, bosques e florestas, devia excluir logo à partida os eucaliptos, sendo constituída por "árvores bombeiras" como bidoeiros, carvalhos, castanheiros, cerejeiras, cipreste mediterrânico, sobreiros, medronheiros, nogueiras, pessegueiros, oliveiras e ameixoeiras.

As “árvores bombeiras” são árvores folhosas que mantêm o ambiente relativamente húmido e abrigado do vento durante o verão. Durante o verão estão verdes, por isso, ardem com mais dificuldade e, por outro lado, produzem uma folhada que ao acumular-se no solo é pouco inflamável e se decompõe com facilidade, ou seja, cai no outono e quando chega o verão grande parte decompõe-se.

 

Temas relacionados:

- OS BENEFÍCIOS DAS ÁRVORES PARA SI E SUA CIDADE

- INCÊNDIO: A ÁRVORE MEDITERRÂNICA QUE RESISTE AO FOGO

- PORQUE ARDE PORTUGAL MAIS DO QUE TODO O RESTO DA EUROPA?!?

 

Fonte:

zap.aeiou

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A água é de todos


3 comentários

De Mário Capelo Santos a 08.08.2017 às 15:23


Quando os incêndios florestais atingem a dimensão da tragédia e as imagens dantescas invadem os ecrãs televisivos, é certo e sabido que se multiplicam as análises para iludir as responsabilidades político-partidárias daqueles que ao longo de quatro décadas conduziram a floresta portuguesa ao estado em que se encontra. Ocultar as responsabilidades de PS, PSD e CDS.



Quando os incêndios florestais atingem a dimensão da tragédia e as imagens dantescas invadem os ecrãs televisivos, é certo e sabido que se multiplicam as análises para iludir as responsabilidades político-partidárias daqueles que ao longo de quatro décadas conduziram a floresta portuguesa ao estado em que se encontra. Ocultar as responsabilidades de PS, PSD e CDS.

Destacam-se (sempre) duas fórmulas. A da generalização, do «todos somos culpados», agora renovada com o pseudónimo «o Estado falhou». E a da descoberta de um bode expiatório, que assuma a responsabilidade dos que assim se descartam dela. Nos fogos florestais são bem conhecidos: o «clima», o «incendiário», e o «eucalipto» (que regressou em força!). Mais «elaborado» e mais mistificador é o bode expiatório, passa-culpas, atribuindo responsabilidades à «pequena propriedade florestal». Que não tem qualquer novidade.

Na sequência dos grandes incêndios de 2003, o governo Barroso/Portas nomeia o eng.º João Soares para a Secretaria de Estado das Florestas. Com um currículo de competência técnica ao serviço das celuloses, as suas intervenções definem a estratégia da direita. «A questão fulcral da actual floresta portuguesa é a ausência de uma gestão activa e profissional. Sem ela, os espaços florestais estão abandonados e apenas são objecto de uma exploração “mineira”. Com esta situação vem o maior risco e a maior susceptibilidade ao fogo e nunca é possível as mais valias associadas às (ausentes) práticas técnicas de gestão». E porque não há a tal gestão?: «(…) a gestão florestal exige uma área mínima de intervenção silvícola. É por isso que importa garantir essa área mínima (…)I.
Já então remava o PS, com o Projecto de Lei 384/IX, de que era 1.º subscritor o deputado Capoulas Santos: «A estrutura de propriedade florestal que a história nos legou tem constituído e constitui o principal constrangimento à gestão activa e profissional de uma parte significativa da floresta nacional (…) para além de representar um factor determinante para a propagação dos incêndios.»
Estas teses foram plasmadas num Livro Branco e numa Resolução do Conselho de Ministros, que decretou uma «Reforma Estrutural do Sector da Floresta». Com a saída do governo PSD/CDS de João Soares, a estratégia amorrinhou.

Estranhamente, estas teses são acompanhadas por F. Louçã, então líder do BE, que, em visita a uma área ardida em Agosto de 2005, defendeu «uma profunda alteração na propriedade da floresta portuguesa, no prazo de 5 anos, para prevenir a ocorrência de incêndios», acrescentando: «Mas a propriedade é o problema de raiz.»II Louçã, que regressou a estas ideias a propósito de Pedrogão, com crítica acerada a quem duvida desse caminho.

O governo PS/Sócrates (2005) deu continuidade à política de direita, mas a presença na Direcção Geral das Florestas de gente descomprometida e tecnicamente capaz assegurou, por pouco tempo, uma viragem na política florestal. E após a nova catástrofe de 2005, elaborou a Estratégia Nacional das Florestas (ENF), com a inscrição de um SDFCI – Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (Decreto-Lei 124/2006). Com a saída do Director Geral das Florestas e da sua equipa, iniciou-se a travagem e inversão dessa política florestal.

Regressou o PSD/CDS ao governo e com Assunção Cristas no Ministério da Agricultura a estratégia do Eng.º João Soares foi retomada. A primeira peça foi a criação da chamada Bolsa de Terras (Lei 62/2012), onde, a par das ditas terras sem dono e abandonadas (art.º 15.º), se incluíram as terras comunitárias dos baldios (art.º 14.º). A segunda foi a Lei 152/2015 do «Processo de reconhecimento da situação de prédio rústico e misto sem dono conhecido que não esteja a ser utilizado para fins agrícolas, florestais ou silvopastoris e seu registo».

Há quem aprecie as referidas teses, pensamento de uma santa aliança, que vai do CDS ao BE, englobando o PSD e o PS.

De Mário Capelo Santos a 08.08.2017 às 15:25

Há quem aprecie as referidas teses, pensamento de uma santa aliança, que vai do CDS ao BE, englobando o PSD e o PS.
De facto, elas constituem o cerne do Estudo de Novembro de 1996, elaborado pelo BPI, Agro.Ges e Jaakko Poyry, para a ex-Portucel (agora Navigator), ex-Soporcel (agora ALTRI), Sonae e CAP, onde as «insuficiências da produção florestal» resultam de «uma insuficiente ocupação de solos com vocação florestal; uma estrutura da propriedade inadequada (…)». Teses que tiveram a bênção do eng.º Belmiro de Azevedo, para quem o País necessitava de «um processo legislativo que ajude a concentrar a propriedade» porque o risco de incêndios é potenciado pela «extrema pulverização da floresta» (18ABR2005). Como dizia Eclesiastes: «Não há nada de novo debaixo da roda do sol», ou, pelo menos, quase nada!

As peças do Pacote Florestal (Banco de Terras e Cadastro Simplificado) e do projecto do BE (Banco Público de Terras) são, assim, uma redescoberta da pólvora. E o enorme espanto em torno da posição do PCP só é possível por distracção sobre as críticas de há muito do PCP àquelas teses, ou do que disse desde que o Governo, em Outubro de 2016, aprovou a dita Reforma.

Permanecem dois mistérios. Porque votaram o PS e o BE, na legislatura anterior, contra as leis do PSD/CDS/Cristas da Bolsa de Terras e das Terras sem dono conhecido? Porque votaram, agora, o PSD e o CDS contra o Banco de Terras do
PS e BE?

Há razões para transformar a pequena propriedade florestal em bode expiatório dos incêndios florestais?

Caberia dilucidar as aparentes diferenças dos seus projectos.III Mas pelos seus objectivos declarados, pese as variantes, mais ou menos adjectivadas («pequena», «sem utilização», «sem dono», «situação de abandono», «ausência de actividade») são todas fórmulas semelhantes para justificar a expropriação da pequena e média propriedade florestal com a força coerciva do Estado e promover a concentração fundiária na busca da dimensão óptima para a tal gestão activa e profissional. João Soares foi bastante mais claro: «é preciso ter a coragem de admitir que muitos dos actuais proprietários florestais terão de abdicar de sê-lo ou, no mínimo, terão de passar a terceiros a gestão dos seus espaços silvícolas.»

Aquelas teses não têm qualquer base científica ou mesmo estudo empírico que as suporte. O pressuposto de que a causa dos incêndios está na estrutura da propriedade, o minifúndio, e nas ditas terras sem dono conhecido, ou nas terras ditas abandonadas, é uma «teoria» que ninguém provou. Havendo milhares de incêndios, conhecendo-se onde começam e como progridem, não há nenhum relatório que aponte nesse sentido. Procure-se essa conclusão no último relatório aprovado por unanimidade na Assembleia da República sobre os incêndios de 2012. Ou nos três anteriores relatórios da Assembleia da República. Ou na ENF!

A prova do algodão. Em 2003, arderam extensas áreas de sobro na área da grande propriedade alentejana e ribatejana. Arderam nesse ano 20/25 por cento do Pinhal de Leiria e posteriormente quase 100 por cento da Mata Pública de Vale de Canas! Em 2006, até áreas geridas pelas celuloses arderam – caso de 5000 hectares na Serra d’ Ossa/ Évora da ex-Portucel! Ardem com uma regularidade aflitiva extensas superfícies das Áreas Protegidas, inclusive reservas biológicas, no PNPG, Montesinho, Serra da Estrela, etc. São áreas de pequenos proprietários? Abandonadas? Há alguns, mas são quase sempre áreas baldias, e com a especial tutela do Estado.

Mas a prova mais elucidativa – verdadeira contraprova – é a história do que sucedeu com as áreas baldias. São 500 mil hectares no Norte e Centro em que, apesar da dimensão – em média 400 hectares –, foram sucessivamente percorridos por incêndios. Se havia área porque arderam? Registe-se que a generalidade dos baldios tem hoje planos de gestão florestal/planos de utilização do baldio (PUB). E questiona-se: porquê os serviços oficiais anularam um instrumento de gestão da ENF? E sempre negaram aos Baldios os fundos comunitários? E sempre obstaculizaram a constituição de grupos de baldios?

De Mário Capelo Santos a 08.08.2017 às 15:27

E ninguém demonstrou até hoje que os incêndios nessas grandes áreas resultaram da «contaminação» por incêndios iniciados na pequena propriedade florestal!

Acresce que mesmo a generalização maximalista da tese do «abandono da floresta» levanta fundadas dúvidas, como resulta do Livro Os Proprietários Florestais de F. Oliveira Baptista e R. Santos Terra (Celta Editora, 2005.IV

Por que não há gestão activa da floresta nem funciona o mercado fundiário florestal?

O motor de uma gestão activa da floresta, numa economia capitalista, está na rentabilização económica da produção florestal. E, não sendo despiciendas outras receitas, é a produção lenhosa o factor-chave para uma efectiva rentabilidade da floresta. O que não pode deixar de significar a comercialização a preço remunerador da madeira.

Ora, o mercado dos principais produtos florestais são dominados/ monopolizados pelos oligopólios das celuloses/pasta de papel, dos aglomerados e da transformação da cortiça. O que tem provocado uma degradação permanente e generalizada dos preços dos produtos lenhosos e é um factor decisivo para a não rentabilidade, e logo abandono, da propriedade florestal. Onde está esta questão nos longos preâmbulos das propostas legislativas dos promotores de bancos e bolsas de terras?

Quando se invoca a necessidade de agregação de parcelas, concentração da propriedade fundiária, conduzindo a gestões profissionais e a maiores produtividades físicas, cai-se num evidente círculo vicioso, que serve aos que já hoje ganham com a situação. Os preços são baixos porque a produtividade é fraca; a produtividade é fraca porque os preços são baixos, não incentivando ao agrupamento das áreas. Como refere Pereira dos Santos (Público, 19JUL17), «o Governo resolveu inventar um problema de propriedade, como se não fosse a falta de competitividade que conduz à ausência de dono, e não a inversa».

Há um mercado de produção lenhosa? Não. Há um simulacro de «mercado» completamente distorcido e sem qualquer transparência na formação do preço por posições oligopolistas, ausência de exportação, e falta de informação dos pequenos produtores florestais.

O «mercado florestal» reclama do Estado uma ampla e musculada intervenção. Com a lucidez de que tal não resolverá muitos dos problemas da floresta, pelo menos a tempo de responder aos necessários ordenamento e prevenção. Mas um mercado de produção lenhosa a funcionar com transparência e informação, assegurando à produção preços remuneradores, é uma questão essencial.

Não há um problema com a estrutura e o abandono da floresta?

Há. E tem respostas há muito delineadas. É o desenvolvimento do associativismo voluntário e a participação dos proprietários e produtores florestais e medidas para assegurar a rentabilidade à produção agro-florestal: na produção lenhosa (nomeadamente na atenção ao preço da madeira), na produção pecuária e na sustentabilidade da exploração agrícola familiar. É a multiplicação e reforço da actividade das associações florestais nas suas diversas formas: Zonas de Intervenção Florestal/ZIF, cooperativas florestais, grupos de baldios e outras.

Respostas que devem possuir flexibilidade para responder à diversidade da propriedade florestal. Como referem Oliveira Baptista e Santos Terra, no livro citado (o único com uma análise aprofundada dessa diversidade), devem responder às várias «lógicas económicas dos proprietários privados da floresta portuguesa».V

Vantagens do bode expiatório «pequena propriedade florestal»

Sempre que a comoção colectiva percorre o País, como sucedeu com a tragédia de Pedrogão, desresponsabiliza-se a política agro-florestal de sucessivos governos e apaga-se a causa principal das tragédias! Sempre que os fogos matam gente é garantido que há nova legislação. Não custa dinheiro, é só publicar no Diário da República.

Aproveitando a disponibilidade da opinião pública portuguesa emocionada, indignada, reclamando medidas que ponham fim às sucessivas tragédias, julga-se asado o momento, e a dita estratégia, mais ou menos retocada, ressurge em força. Aí está mais uma vez! Com evidente utilidade.

O bode expiatório absolve os governos e as políticas responsáveis pelo «abandono» da floresta (e da terra agrícola familiar). Absolve os que não cumpriram nem fizeram aplicar, por falta de d

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