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Roteiro pelos segredos mais belos da segunda maior ilha dos Açores, dominada pela montanha mais alta de Portugal e pelas baleias, que avistamos ao largo da ilha.
Foto:sapo
Menos turística do que São Miguel, a ilha do Pico, nos Açores, mantém ainda aquela aura de terra virgem por descobrir. Dominado pela imponente e arrebatadora montanha mais alta de Portugal com 2351 metros, este pedaço de terra, o segundo maior do arquipélago, cativa-nos de imediato pelas suas deslumbrantes paisagens. Ao longe, no horizonte, e dependendo do local onde estamos, o nosso olhar alcança as ilhas vizinhas de São Jorge e do Faial.
O silêncio bucólico é um dos seus trunfos e, mesmo que não houvesse muito para ver, a ilha merecia uma visita só pelas suas cores intensas e contrastantes, puras e tranquilas. Mas há. Terra e mar fundem-se numa arrebatadora viagem de sentidos que fica na memória de quem se sente um espetador privilegiado perante tamanha beleza natural.
Podemos iniciar esta aventura por mar com a ajuda da empresa do Norberto, homem de mar e de histórias, homem ligado à natureza e à terra, figura mítica da ilha. Foi o Frederico quem nos levou de barco, desde o cais da Madalena, à procura de baleias e de golfinhos. O mar estava sereno, pelo que a viagem correu tranquila, sempre de olhos postos no mar, na esperança de alcançar bufos, o ar que as baleias expiram e que faz uma espécie de repuxo. As coordenadas vêm de terra e estão a cargo dos vigias, colocados em pontos estratégicos da ilha para observarem estes mamíferos e, assim, poderem dar as indicações certas aos barcos que transportam os turistas curiosos.
Foto:sapo
São segundos preciosos que nos permitem ver estes cetáceos, que podem chegar aos 27 metros de comprimento, e que rapidamente se atiram para as profundezas do oceano, de uma cor azul escura. A espera pode ser longa, mas mal espreita para fora de água, a baleia, neste caso, a comum, é novamente apanhada pelos olhares deslumbrados e derretidos com os seus movimentos elegantes. Já os golfinhos deixam-se ver com maior facilidade. Habitualmente são mais vaidosos e divertidos e parecem gostar de fazer parte das fotografias de família dos visitantes.
Voltamos a terra firme para encarar e enfrentar a dureza da montanha. A subida faz-se habitualmente com guias, mas quem dispensar esta ajuda, conta sempre com um GPS fornecido na Casa da Montanha, local de onde se inicia a subida. Primeiro, uns degraus e, a partir daí, apenas caminho e rocha e persistência, muita persistência.
O percurso é longo e muito sinuoso, aconselha-se roupa adequada e calçado apropriado, para evitar escorregar. Ao longo do trilho, encontram-se 47 postes, que constituem uma espécie de passagem obrigatória e de contagem decrescente para a chegada à cratera ou ao Piquinho, a derradeira etapa.
Foto:sapo (Lagoas do Pico)
Durante o percurso, a temperatura vai mudando. Abaixo das nuvens, pode estar sol, para depois, mais acima, ficar tudo nublado. Depois de passarmos a barreira das nuvens, o sol volta a brilhar e o céu parece ainda mais azul. A beleza da montanha é indescritível, tal como a sensação de ir ultrapassando as barreiras.
Ao longo do caminho, encontramos outras pessoas, aventureiros, amantes da natureza, turistas de diferentes nacionalidades que descobriram a riqueza das nossas paisagens. Quase todos concordam: o mais difícil não é subir, mas, sim, descer. Primeiro, porque o corpo já está cansado, depois, porque obriga a maior força nos joelhos. O habitual é mesmo demorar mais tempo na descida. Para nós, a viagem ficou num total de oito horas e mais trinta minutos.
Foto:sapo (Poça Branca, piscina natural)
Depois de um dia tão intenso e exigente para o corpo, o ideal será reservar os dias seguintes para descansar nas piscinas naturais. Quando o sol aperta, a temperatura convida a um mergulho no Oceano Atlântico. A água pode parecer um pouco fria, de início, mas, depois, até sabe bem dar um mergulho naquelas águas tão límpidas e transparentes. Vale a pena conhecer as piscinas das Lages do Pico, Poça Branca, Criação Velha e de São Roque do Pico.
Voltamos ao centro da ilha por estradas praticamente desertas para descobrir as lagoas do Capitão, Caiado e do Paúl, entre outras. De uma beleza rara estonteante, estes cenários, grande parte das vezes, envoltos num denso nevoeiro, merecem, sem dúvida, uma visita.
Mas a ilha do Pico é também reconhecida pelo seu vinho. As paisagens das vinhas são Património Mundial da UNESCO, desde 2004, dada a sua dimensão histórica e económica. A cultura da vinha, aqui com características únicas, já que assenta na rocha basáltica, de origem vulcânica, remonta ao povoamento da ilha e mantém hoje praticamente os mesmos rituais.
Foto:sapo
Para proteger as plantações, foram construídos muros de pedra, cujos labirintos fazem as delícias dos visitantes. Os Lajidos da Criação Velha e de Santa Luzia constituem os melhores exemplos de uma arte tão antiga quanto única.
Terminamos a viagem como começámos, com as baleias. Para perceber melhor a importância das baleias para os Açores, sugerimos uma visita a um dos museus dedicados a perpetuar as memórias daquelas gentes com um passado profundamente ligado à caça da baleia e do cachalote, uma arte praticada até 1987, altura em foi proibida.
O museu dos Baleeiros, situado nas Lajes do Pico, é um lugar de história, de artefactos e de exemplos que mostram como era duro e, ao mesmo tempo, cativante, o modo de vida dos baleeiros. A caça era feita de forma artesanal e exigia muita coragem e valentia de quem se aventurava ao mar e não sabia se regressaria vivo a terra.
Foto: sapo (Subida da montanha)
Fonte e fotos:
Helena Simão