O presidente da União de Freguesias de Cepos e Teixeira (Arganil), José Costa, conduz um jipe por um caminho de terra, que circunda a aldeia, enquanto vai apontando para os pequenos castanheiros e carvalhos que despontam pelo terreno revirado, onde ainda estão espalhados galhos queimados – marcas dos destruidores e mortais fogos de outubro de 2017.

Sete hectares de castanheiro aqui, seis hectares de carvalho acolá, dois hectares de medronheiro mais ao fundo, diz, contabilizando todos os terrenos dos baldios geridos pela junta que já veem despontar o verde, um verde diferente – de folhosas.

“Depois de passar o fogo, alguns dias depois e em conversas com pessoas, chegámos à conclusão que temos que alterar o rumo das coisas. Temos que ordenar a floresta como deve ser e adequada ao clima que temos hoje e às condições de declive na zona de montanha. E espécies resistentes são a única forma que eu vejo de minimizar o perigo dos incêndios”, diz à agência Lusa José Costa, que fez a vida como mestre florestal e que foi assistindo aos fogos cíclicos que foram ameaçando os Cepos – em 1975, em 1985 e em 2017.

O tipo de floresta, composta essencialmente por pinheiro bravo, não mudou muito nos últimos 40 anos por esta zona da Serra do Açor, mas a ocupação dos terrenos já é sintoma do abandono a que se viu votada uma freguesia que tem aldeias com menos de uma dúzia de habitantes.

Primeiro, as pessoas abandonaram os pequenos quintais e terrenos junto às linhas de água, com campos de milho, batata e feijão a darem lugar a silvas. Depois, explica, deu-se o abandono das terras à volta das aldeias, nos últimos 15 anos. 

“Aí, cresce o mato e a vegetação e cresce o perigo para a aldeia. E nesta região da Beira Serra temos que fazer algo para proteger as aldeias. O que temos que fazer é a implementação não de cortes de mato contínuos mas espécies resistentes ao fogo para criar barreiras consideráveis. É a única forma que eu vejo de protegermos as pessoas e as habitações”, vinca.

Daí, a junta aproveitou a onda de solidariedade que se fez sentir após os fogos de outubro de 2017 e desde as primeiras chuvas até março acolheu mais de 1000 voluntários que ajudaram a desenhar uma cortina de 30 hectares de folhosas.

Este ano, já tem mais 12 hectares prontos para serem reflorestados e espera atingir aárea conseguida na última época de plantação.

Alzira Pimenta, de 69 anos, e o seu marido, a viver em Cepos, também se juntaram aos voluntários para ajudar a plantar carvalhos e castanheiros.

“Andei ali a plantar”, refere, apontando para as costas da sua casa. “Estão lá bem bonitos os carvalhos”, nota.

Para Alzira, não há dúvida de que se tem de apostar em árvores como os castanheiros ou as cerejeiras, “árvores corta-fogo”.

“Como já passámos por esta situação por três vezes – o primeiro em 75, em 85 voltou a arder tudo e agora voltou a arder – nós estamos cada vez mais mentalizados que temos que optar por outra vegetação, por outras árvores”, afirmou, referindo que, mesmo com 69 anos, no que puder ajudar para mudar a paisagem à volta da sua aldeia, ajuda.

Mas os planos desta pequena junta do concelho de Arganil não se ficam apenas pela reflorestação nos 400 hectares dos baldios.

Segundo José Costa, a junta está também a trabalhar para constituir uma Zona de Intervenção Florestal (ZIF) para a área da união de freguesias e quer avançar com a criação de um rebanho de 200 cabras para gerir o mato nas zonas altas de montanha.

Para o presidente da junta, os apoios dados até agora são insuficientes, ainda para mais para uma freguesia com poucos recursos. Contudo, espera até ao final de 2019 conseguir ter o rebanho e com isso criar pelo menos três postos de trabalho – quer no pastoreio, quer numa queijaria.

Ao mesmo tempo que pensa numa aldeia mais segura, acredita que a mudança na floresta e a aposta em atividades como a pastorícia ou a apicultura podem ajudar Cepos a ter um futuro.

“A ideia é manter isto vivo. A nossa ideia é manter isto vivo”, vinca José Costa.

 

De:

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De:

24.Sapo